'Contato Imediato' Cap.2 e 3


'Contato Imediato' Cap.2 e 3


Meu primeiro pensamento foi gritar Mel, mas ela corria mais rápido do que eu para que eu pudesse alcançá-la e trazê-la de volta para mim e entrarmos no carro para fugir.
Não me orgulhava em dizer que não era nem um pouco corajosa. E naquele momento o resto dela estava findando. Eu quase desmaiara quando tinha avistado o objeto caindo em minha direção e apenas a possibilidade de me ver cara a cara com ele, tê-lo perto demais de mim, estava tornando tudo pior.
Mel notou que eu estava parada e trêmula e lançou um olhar para trás com um olhar perigoso no olhar enquanto perguntava:
- Lua, você vem ou não vem?
Eu preferia ter dito "Não, vai você!" e corrido desvairadamente de volta para a minha barraca, onde eu me cobriria até a cabeça e tentaria esquecer tudo o que eu havia visto, todas as luzes e a cena do objeto caindo tão perto.
Quando Mel me convidara para dormir ao ar livre, ver as estrelas, era só para ver as estrelas. Nenhum plano a mais. A hipótese de ver homenzinhos verdes estava me deixando nervosa demais. Poderia ser que não haveria nada dentro da nave, poderia ser apenas um pedaço de satélite que tinha caído. Mas satélites não eram tão brilhantes. Eu não poderia me enganar por muito tempo. E isso estava deixando Mel impaciente, enquanto ela batia o pé contra a areia fofa esperando por mim com a cara mais furiosa que ela poderia fazer.
Contrariada pela segunda vez naquela noite e sendo contrariada exatamente pela mesma pessoa, corri pela areia até Mel e, juntas, corremos para as árvores, nos localizando pela fumaça esbranquiçada que saia por entre as arvores.
Enquanto nós andávamos entre as arvores, eu observava tudo ao nosso redor. Minha amiga prestava atenção apenas no ponto fixo onde a fumaça estava saindo. Eu não. Olhava por todas as arvores esperando não encontrar nenhum animal que pudesse nos atacar. E devia confessar, que estava terrivelmente preocupada também de encontrar algum homenzinho verde que nos rendesse pelo caminho. Aquilo seria terrível. E apenas imaginar isso estava me deixando suada. Eu sabia quando estava suando por uma corrida intensa e quando eu estava suando de nervoso e no momento, era puro nervosismo que corria pelas minhas veias me deixando ainda mais aterrorizada.
Não foi difícil achar o local onde o sei-lá-o-quê havia caído. Mel o encontrou seguindo a fumaça, encontrando uma cratera gigante e redonda onde, em cima dela, jazia um objeto indescritível.
Eu já vira inúmeras coisas em minha vida, mas nada daquele jeito, nada com aquele material estranho. Enquanto Mel andava mais para frente, analisando o perímetro, eu analisava o objeto, me recusando a chamar aquilo de nave. Era enorme, prateado e cheio de botões do lado de fora, além de luzes que no momento estavam apagadas, mas que eu sabia o quanto poderiam brilhar. O material era realmente desconhecido, não era inox, menos ainda alumínio, mas parecia algo entre esses dois materiais, entretanto mais resistente, já que mesmo com a queda impressionante, o objeto aparentava ter a mesma forma, como se a altura da queda não fosse o suficiente para destruir tal matéria prima. Pensei em descrever aquilo como um globo de espelhos gigante, pelo seu formato e tamanho, apesar de ser mais oval que um globo, mas nem era redondo e, com toda a certeza, aquilo era bem mais interessante do que um globo de espelhos. Globos de espelhos não tinham tantas luzes, e com certeza não eram tão quentes.
O calor emanava da cratera, tornando aquele dia frio de novembro quase tão quente como uma tarde de julho.
- Uau! – Mel exclamou se aproximando demais da cratera, quase como se quisesse entrar para poder investigar mais de perto. Detive-a com um braço colocando-a para trás de mim, afinal, nunca se sabia o que poderia ter ali dentro e o que o que haveria ali dentro poderia fazer com ela. E, sinceramente, apesar de desejar ir primeiro e ver se era seguro, eu não era uma pessoa corajosa o suficiente para fazer isso.
- Deixe de ser mole, Lua. Não deve ter nada aí dentro. Deve ser apenas uma sonda de inspeção.
- Isso não parece ser uma sonda. – respondi, ignorando o insulto e dando uma olhada melhor no objeto, o calor ainda irradiava de lá de dentro, fazendo-me afastar mais dois passos da cratera e olhar para o rosto de Mel iluminado pelos reflexos do material espelhado da nave, ou qualquer coisa que aquele objeto fosse.
Mel parecia uma criança em uma loja de brinquedos, ela estava bem prestes a pular de emoção e entrar na cratera para agarrar um pedaço da nave para levar como recordação, como eu bem a conhecia.
- Vamos embora, isso pode explodir.
- Está louca? Não vou embora daqui enquanto não pegar um pedaço disso para levar para casa. – ela resmungou com um sorriso enquanto tentava entrar mais uma vez no buraco em busca de um pedaço do material. Eu não havia dito que ela faria isso?
- Mel! - ralhei - Isso não é uma loja de souvenir, ok?
Ela jogou o cabelo brilhante e escuro para trás como se dissesse que não discutiria aquilo comigo mais e desafiou-me entrando dentro da cratera quente e se aproximando da nave com cuidado, virando para trás e fazendo um gesto com a cabeça como se perguntasse se eu iria segui-la. Eu era covarde demais para entrar naquele buraco. Pé no chão demais para fazer uma loucura como aquela. Olhei ao meu redor, procurando mais vestígios da queda para investigar, dando sempre algumas olhadas para Mel de vez em quando para ter certeza de que ela não estava fazendo nenhuma loucura. Coisa que ela era bem passível de fazer.
- Espere até eu postar isso no meu blog... – escutei ela ir dizendo para si mesma enquanto andava calmamente dando a volta no grande objeto, maior que ela e sendo oculta pela mesma, saindo do meu campo de vista e me deixando mais aterrorizada ainda. Será que ela não tinha noção do perigo, meu Deus? Ela se sentia bem se arriscando daquela maneira? Bom, se ela se sentia bom pra ela, para mim aquilo não era nem mesmo um pouquinho bom. Meu coração já estava na boca de tão forte que batia e eu imaginava milhões de cenas onde um serzinho verde com grandes antenas em pé, pulava de dentro da nave, atacando Mel e depois correndo atrás de mim por toda a floresta. Com mais medo ainda, por causa da direção dos meus pensamentos, puxei meu celular do bolso de trás da calça jeans que eu estava vestindo, e dando uma olhada na minha agenda telefônica, me arrependendo em seguida por não ter o número da NASA em minha discagem rápida. Só a pizzaria do Rico, a polícia e Mel, e no momento nenhum deles poderiam me ajudar.
Os policiais não acreditariam em mim e Rico pensaria que eu estava querendo marcar um encontro, na sua mente estranha e cafona. Talvez Mel ajudasse, já que me pegaria quando eu desmaiasse do mais puro medo, o que não estava tão longe de acontecer.
- Lua!
O grito dela foi desesperado e ecoou nos meus ouvidos, me fazendo pular dentro da cratera, esquecendo todo o medo que eu alardeava até minutos atrás e tendo todas aquelas imagens malucas desaparecendo de minha mente. A preocupação falava mais alto no momento. Eu sempre ficava desesperada com a hipótese de acontecer alguma coisa à minha melhor amiga. Mel significava muito para mim, e apesar de eu estar furiosa por ela não escutar minhas recomendações, a preocupação tomava conta de mim de uma maneira impressionante.
Corri pela cratera, margeando a nave quase fervente de tão quente que estava e fiz a mesma curva na qual vi Mel desaparecer, tendo toda a minha atenção ao redor da nave, procurando por ela e enfim a achei. Minha amiga estava abaixada a uma distancia segura da nave, encarando algo que eu não saberia dizer o que era. Parecia ser um corpo, ou melhor, dois corpos. Eles estavam jogados no chão quase como se tivessem sido jogados de dentro dela, ou se tivessem se jogado de dentro dela em desespero. Lembrando-me por alguns segundos da tragédia do World Trade Center deixei que minha mente criasse várias imagens do que poderia ter acontecido, entre essas imagens, os dois corpos sendo atirados de dentro da nave fervente, prestes a explodir. O que era impossível, certo? Minha Nossa! Será que a nave atingira alguém?
Era uma possibilidade. Aqueles dois poderiam estar acampando por perto e foram surpreendidos pela nave, afinal ela quase caira em Mel e eu também. Sim, fazia mais sentido para mim que imaginar que eles estivessem dentro da nave. Temerosa por motivos diversos, andei até Mel que acariciava o rosto arranhado de um rapaz, procurando por mais algum ferimento exposto. Minha atenção se prendeu no rapaz e nas mãos de Mel, que o tocavam com cuidado à procura de mais alguma contusão ou coisa assim.
- Lua, por favor, dê uma olhada naquele rapaz ali.- chamou ela, tirando minha atenção de seus movimentos e voltando-a para o rapaz ao lado do que ela estava atendendo.
Corri para ele de pronto, agachando-me ao seu lado e estiquei uma das mãos com um pouco de temor, tocando o seu pescoço em busca de seus sinais vitais. Sim, ele estava vivo, apenas desacordado. Minha mão ainda estava em seu pescoço, enquanto sentia meu coração bater mais forte e a sensação que me atacara mais cedo, perto das barracas, voltara com força total. Aquele pressentimento conseguira ficar ainda mais forte quando minhas mãos tocaram o homem.
Escorreguei meus dedos por seu pescoço, chegando à sua mandíbula, enquanto me deixava examinar o seu rosto. Minha mão livre tocou o seu rosto quente, analisando sua boca linda com seus lábios entreabertos. Nunca, em toda a minha vida, eu vira um homem tão bonito na minha frente. Seus cabelos claros eram um convite para os meus dedos e sua boca rosada, me encantara de um jeito diferente de tudo o que eu já havia sentido. Ergui os dedos para tocá-los, mas retive-me.
Olhei para Mel que ainda atendia o rapaz com ela e prestei atenção no mesmo. Tão bonito quanto o que estava ao meu lado, mas com traços mais suaves e uma aparência mais suave, apesar de parecer estar mais machucado do que o que eu atendia. Os seus cabelos também soavam convidativos às mãos, castanhos e suaves.
Eles não eram apenas bonitos, eles tinham algo mais. Charme, ou algo que eu não conseguiria identificar. E eu já conhecera muitos modelos de Cuecas Calvin Klein para dizer isso com aquela certeza toda. Aqueles homens eram bonitos demais para serem simples campistas. Mas não era momento de ficar pensando em beleza de caras desacordados, por mais que ela fosse tão esplêndida. Eu tinha que prestar atenção nos ferimentos dele, e era o que eu fazia no momento seguinte, tocando todo o seu corpo, procurando fraturas e ferimentos mais profundos além dos que já estavam expostos.
- Eles não são daqui. - disse Mel baixinho para mim, enquanto eu avaliava criticamente quantos pontos seriam precisos no corte que o de cabelos claros tinha no braço, o corte parecia grave e profundo. Sua sobrancelha também exibia um corte que precisaria de pontos urgentes, o sangue que escorria dele já estava perto de seu nariz. Sangue que limpei com a manga de minha camiseta, cuidando para não machucá-lo mais com o toque. Mas, com certeza, o corte do seu braço era o mais preocupante. Ele tinha algumas queimaduras também, mas nada impossível de se tratar.
Olhei para Mel, depois de minha inspeção, como se perguntasse por que ela dizia aquilo e ela apenas apontou para as roupas que os dois vestiam. Coisa que eu não tinha parado para reparar até então. E isso porque eu havia reparado até demais! Mel tinha razão. Eles usavam um suéter preto de gola alta, junto com calças pretas e botas da mesma cor. Até aí, nada de diferente, mas o material denunciava-os.
A calça parecia ser de couro, mas quando a toquei para verificar isso com mais cuidado percebi que lembrava um jeans misturado com moletom, algo que eu nunca tinha visto antes. A linha que parecia ser lã, presente no suéter, era brilhante e ao tocá-lo, me lembrei do toque da seda, com o seu toque frio e suave. Mas colocando a mão na gola, mais uma vez me lembrei da lã, pelo jeito como o tecido aquecia a minha mão pelo lado de dentro.
Nenhum desses tecidos poderia ser misturado, o que me deixou em suspense e mais curiosa ainda. Esses tecidos podiam não se misturar na Terra, mas e em qualquer outro lugar além? Talvez Mel soubesse.
- O que são eles? - perguntei em voz baixa com um pavor incrível de que o tom de minha voz mais alto pudesse acordar os dois homens, acordar quem não se conhecia era tenso demais. E se... Eles fossem perigosos? O medo pior de que eles fossem simplesmente perigosos, seria que eles fossem extraterrestres. Sentia o medo disparar como se fosse um segundo coração, e isso dava um gosto amargo em minha boca. A pergunta não saia de minha cabeça, ecoando sem parar me deixando mais e mais tensa. E se eles fossem extraterrestres?
- Não sei, mas temos que tirá-los daqui. Eles estão feridos.
Mais uma vez Mel dizia uma coisa que nós duas já sabíamos. Realmente tínhamos que tirá-los de lá de dentro, mas eu não sabia como fazer isso e subi-los cratera acima para levá-los às nossas barracas.
- Por que não chamamos uma ambulância? - minha voz agora um pouco mais alta devido ao pânico que estava aumentando. Tinha medo de que aqueles lindos caras acordassem e pudessem nos fazer mal. E se eles nos matassem enquanto tirávamos eles de dentro do buraco? Meu Deus! E se eles nos abduzissem? Sim, isso seria um pouco irracional, já que a nave deles parecia um pouco esmigalhada à nossa frente. Mas e se eles tivessem, sei lá, uma nave de bolso? Olhei para Mel com o coração nas mãos, temendo que eles fizessem algo contra nós, mas ela parecia calma o suficiente, passando a mão pelo rosto do rapaz ao seu lado.
- Mel... – chamei tensa. – Você tem certeza?
- Está com medo de quê, Lua?
- E se... – minha racionalidade se esvaia com todo o medo que estava em mim. – E se eles forem perigosos?
Tentei não usar a palavra extraterrestre ainda. Assustaria Mel. Era mais provável que a fascinaria, mas não quis dar sopa ao azar.
- Pare de imaginar coisas e me ajude a tirar esse cara daqui.
Fiz como Mel pediu e me obriguei a parar com aquela loucura, ajudando ela a erguer o primeiro cara, o dos cabelos escuros. Segurando as pernas dele, ajudei Mel a levá-lo morro acima, enquanto ela o segurava pelos ombros. Foi um esforço árduo até que conseguimos chegar do lado de cima da cratera. Quando chegamos às arvores novamente, apoiamos um braço de Mel no pescoço dele e rodeamos o braço dele à minha cintura, com o mesmo esforço ou talvez menos, conseguimos arrastá-lo por entre às arvores, para perto da areia, deixando-o perto das nossas barracas, onde daríamos a ele um pré atendimento, cuidando dos ferimentos mais expostos que ele estampava.
Mel e eu não entendíamos muito de medicina, mas de primeiros socorros tínhamos pelo menos uma grande noção. Mel sabia até mesmo dar alguns pontos. Era útil quando nos machucávamos em nossos acampamentos. Geralmente eu que nunca fora uma que prestava muita atenção onde andava e geralmente me ralava ao entrar ou sair da barraca.
Graças a Deus nossa caixa de primeiros socorros tinha remédios o suficiente para ajudar os dois rapazes. Tínhamos linha para fazer alguns pontos que eles precisavam e uma pomada para queimaduras, que com certeza o rapaz de cabelos claros precisaria dela. Talvez tivéssemos algumas ataduras e antibióticos também para os seus cortes, mas não tinha certeza da validade desses últimos. Merthiolate era certeza que tínhamos. Eu sempre precisava de um desses.
- Vamos colocá-lo dentro da minha barraca, Lua. – pediu Mel.
Com um pouco mais de esforço, conseguimos colocar o cara dentro da barraca em cima do saco de dormir de Mel. Assim que o corpo dele atingiu o saco macio e fino, ele se mostrou mostrando que logo despertaria o que também despertou algo. Meu pânico. De imediato.
Mel sentou-se ao lado do homem, pegando o kit de primeiros socorros debaixo de sua mochila, já separando algumas coisas para usar no momento.
- Lua, você vai ter que ir buscar o outro sozinha. - disse minha amiga, enquanto lançava um olhar preocupado para dentro os ferimentos do homem. Ele possuía um corte na sobrancelha bem maior do que o do de cabelos claros e o seu suéter de gola alta estava em terríveis condições, com algumas machas de sangue na altura do peito, onde uma parte rasgada do suéter mostrava um grande corte que ainda sangrava. - Ele acordará em breve e não quero deixá-lo sozinho. Os ferimentos dele parecem mais graves que o do amigo dele.
Fiquei tentada a discutir com Mel, mas não disse nada sabendo que ela não aceitaria os meus argumentos para irmos buscar o segundo homem juntas. Eu tinha quase certeza de que não conseguiria trazer o outro rapaz, sozinha, mas Mel já passava uma pequena gaze com merthiolate em sua sobrancelha. Enquanto virava as costas e seguia correndo novamente para a grande cratera, eu pensava em mil e uma maneiras de tirar o homem de dentro do buraco sem machucá-lo ainda mais. O meu pavor não era apenas machucá-lo. Eu tinha medo de me machucar também. E se ele fosse realmente um alien que estava apenas esperando eu voltar sozinha para me seqüestrar, me colocando na nave dele e me levando daquela galáxia para um lugar que eu nem ao menos pudesse imaginar? Mesmo com medo, corri pelas arvores ate chegar ao buraco quente, pulando nele em seguida e dando a volta na nave para chegar até o rapaz, assim que me agachei ao lado dele, percebi que ele também estava quase acordando. Com muito custo e inúmeras tentativas, consegui colocá-lo sentado, com as costas apoiada numa das paredes da cratera. Com muito mais esforço do que despendera para colocá-lo sentado, consegui colocá-lo de pé, rodeando seu pescoço com um dos braços e colocando um dos seus braços no meu pescoço e o outro na minha cintura.
Tentei ignorar a sensação que parecia tomar conta de mim por sentir o corpo daquele rapaz, ou fosse lá o que ele fosse, tão perto de mim. Não era uma sensação de medo como a que eu sentia mais cedo, meu corpo parecia forte, mais quente e nada tinha a ver com o calor que irradiava da nave. Era um calor que vinha de dentro de mim. Era uma coisa que eu não conseguia nomear.
Respirei fundo para pegar fôlego para subi-lo pela cratera, mas também para tentar apagar a sensação que parecia me enfraquecer.
Peguei uma das mãos do rapaz para rodeá-lo mais forte para não deixá-lo cair na subida, quando a mão do homem segurou a minha com força, me fazendo encarar seus olhos.
Foi uma das sensações mais intensas da minha vida. Meus olhos se fixaram nos dele me fazendo perder o rumo. Seus olhos eram castanhos, tão castanhos como chocolate. Intensos, mas não doces. Eles me deixavam sem ar, perdida, tensa. Mas não de medo. O seu olhar teve o poder de apagar todo o medo que eu sentia até então. Sua mão passava um calor pelo meu corpo que me deixava ainda mais perturbada, sem chão. Algo difícil de controlar, que tomava a minha respiração e me deixava em choque. E por mais que eu temesse o seu toque tão intenso, eu não conseguia retirar a minha mão da dele. Eu não tinha força o suficiente para nem ao menos pensar.
Não consegui retirar minha mão da dele, nem quando ele retirou o seu braço machucado do meu pescoço, mas ainda mantendo um deles ao redor de minha cintura.
Pensei que ele estivesse com tanto medo quanto eu ou estivesse esperando que eu explicasse o que eu estava fazendo, afinal, se eu fosse ele, eu também não gostaria de acordar de pé, rodeado por uma mulher que eu nem ao menos conhecia. Ou talvez, rodeado por uma terráquea que ele desprezasse. Eu nem ao menos sabia se ele ainda queria me abduzir, mas no momento, com aquele mix de sensações, eu não poderia dizer se estava com medo disso ou não.
Achei certo explicar a ele o que eu estava tentando fazer, e quem eu era também.
- Eu sou Lua Blanco, eu e minha amiga achamos você e o seu amigo. – ele continuou estático, apenas olhando nos meus olhos como se esperasse mais de minha explicação. Resolvi estender minhas explicações para deixá-lo mais calmo ou qualquer coisa assim - Eu realmente preciso tirar você daqui, não sei se a nave vai explodir ou qualquer coisa que acontece quando uma nave cai. Você precisa ir a um hospital. Seus machucados não parecem letais, mas precisam ser limpos para que não aconteça nada pior, entende?
Durante toda a minha explanação, o rapaz não foi capaz de tirar os seus olhos dos meus, como se procurasse uma verdade neles que pudesse dar credibilidade às minhas palavras. Ou ainda como se meus olhos estivessem prendendo os dele, tanto como seus olhos intensos e líquidos como chocolate, puxassem os meus.
Depois de alguns minutos mais naquele contato visual, ele olhou em volta do perímetro da nave como que procurando por alguma coisa, no caso, alguém.
- O...
- O seu amigo? – perguntei de pronto, já entendendo o que ele iria perguntar. Se eu acordasse como ele acordara e não visse Mel, seria com certeza uma de minhas primeiras perguntas. “Onde a Mel está?” e depois viria um “Ela está bem?” que eram as perguntas mais importantes para mim. Onde eu estava e o que a pessoa pretendia fazer comigo não eram tão importantes quanto a segurança dela. Talvez aquele cara fosse humano para levar as amizades tão a sério.
- O levamos para as nossas barracas. Vamos cuidar de vocês. Estão muito machucados. Mas não se preocupem, chamaremos uma ambulância para vocês assim que tivermos certeza de que não há nada mais grave.
Eu disse enquanto ele parava de procurar, voltando os olhos das arvores acima de nós e da grande nave brilhante e encarando-me mais uma vez. Ocorreu a mim, então, que ele não estivesse entendendo o que eu estava falando. O que não me admirava, já que eu falo rápido demais e geralmente as pessoas têm que me perguntar duas ou mais vezes o que eu acabara de dizer.
Era uma coisa corriqueira comigo, sempre que eu ficava estressada demais ou nervosa demais, as palavras simplesmente jorravam de minha boca ou se recusavam a sair. Eu já perdera a conta e quantos primeiros encontros eu já havia arruinado com essa péssima mania de falar demais em momentos inoportunos quando eu ficava muito insegura ou nervosa. Era normal, mas talvez o cara precisasse de mais um tempo para assimilar o que eu acabara de falar. Ele havia desmaiado e ainda estava um pouco atordoado, eu deveria repetir um pouco mais devagar para ver se o cérebro dele poderia me acompanhar dessa vez. Por isso, disse exatamente o que eu havia dito antes, mas agora pausadamente para que ele entendesse.
Ele simplesmente fez um gesto positivo com a cabeça de uma maneira que até me pareceu altiva, arrogante, mas que eu desprezei de cara, deveria ser apenas invenção da minha cabeça, que estava ainda em estado de choque e graça com a mão dele que ainda não saíra de minha cintura.
Olhando para o grande barranco cratera acima, pedira para que o rapaz me ajudasse a conduzi-lo morro acima. Ele simplesmente tirara a mão de minha cintura, subindo com a maior facilidade o paredão e chegando do lado de cima mais facilmente que eu, que subira logo atrás e com a respiração intacta, como se aquele não tivera sido esforço nenhum para ele.
- Eu posso andar sozinho. Não estou inválido.
“Filho de uma mãe!” Foi o primeiro pensamento que surgiu em minha mente depois que ele subiu toda a parede do barranco. Depois veio uma raiva intensa. Se ele podia falar minha língua também, por que me fizera repetir tudo pausadamente como uma idiota? E porque não respondera antes que estava bem o suficiente para subir sozinho, eu não precisaria estar com aquela cara de babaca quando ele subiu a cratera como um verdadeiro alpinista. Eu tinha sido tão simpática, ou pelo menos tentado ser, e ele me responde tão grosseiramente. Tão arrogantemente. Merecia um outro “Filho da mãe” apenas por erguer a sobrancelha machucada daquele jeito tão convencido.
Ele lançou um olhar irônico para mim enquanto eu respirava profundamente, com uma mão no peito, pelo esforço da subida e deu uma risadinha, como se soubesse que eu o estava chamando de filho da mãe e estivesse contente com isso. O que era praticamente impossível a não ser que ele lesse pensamentos.
O rapaz saiu andando na frente com toda a segurança e com ares de arrogância que me fizeram querer acertar o nariz dele com o meu punho, quis alcançá-lo para mostrar o caminho, mas eu podia ser muito vingativa quando estava com ódio e quis deixá-lo ir na frente para que um animal dos que eu temera mais cedo o atacasse. Ou, que no mínimo, ele se perdesse entre as arvores. Pena que elas não eram muitas para que isso acontecesse, seria um bom castigo para a arrogância daquele metido.
- Então Chay está com vocês? - perguntou ele, sem nem ao menos me olhar para fazer isso, continuando à minha frente com seus passos seguros e rumados para o caminho certo, o das nossas barracas.
- Do jeito que você diz parece que o capturamos e vamos picá-lo em centenas de pedacinhos pra estudo.
Pensei em rir, enquanto imaginava aquele cara à minha frente em milhares de pedacinhos picados por eu mesma, mas não ri alto, controlando a minha raiva, como deveria ser.
- Vocês da Terra sempre fazem isso, não duvido que tenham feito mal ao Chay. Não ficaria espantado com mais uma barbárie terrestre.
"Prepotente" Pensara comigo mesma. Só porque ele era um alien gostosão agora ele achava que estava com aquela moral toda? Da estrela de onde ele viera, ele até podia ter alguma moral, mas comigo não. Assim que terminei meus pensamentos, ele olhou para mim com um sorriso típico de pessoa que se acha, de um verdadeiro convencido que até se orgulha como tal. Quase como se ele tivesse ouvido meus pensamentos mais uma vez, ele deu uma olhada em mim de cima a baixo, por inteiro e isso me empertigou ainda mais.
Foi quando me dei de com que estava lidando. Aquele cara que andava em minha frente, me dando toda visão de seu traseiro sexy não era nada mais, nada menos que um dos homenzinhos verdes que eu temera a minha vida toda. Um alien. E mesmo sabendo desse fato, eu não ficara com muito medo, como estava antes de ele acordar. No momento eu estava nervosa. Quase furiosa com o julgamento estapafúrdio que ele fazia do meu planeta. Idiota.
- Não sei das pessoas que conheceram por aqui, mas a julgar por você imagino que as do seu planeta não devem ser muito melhores.
Seus olhos cor de chocolate faiscavam enquanto se virava para mim, me fazendo parar entre as arvores, agora um pouco mais assustada com o que ele poderia fazer, ele ergueu a sobrancelha para responder ao meu insulto com uma voz monocórdia que mostrava que ele também estava tenso, como eu:
- E olha que você ainda nem me conhece, Lua.
Ele riu, jogando a cabeça para trás quando viu o meu medo estampado em meus olhos e continuou andando na frente por entre as árvores, me deixando ainda mais com medo.
Ele me deixara tremula de medo, de pavor apenas de pensar no que ele poderia fazer comigo. Mas mesmo apavorada, seus olhos cor de chocolate não estavam fixos em mim mais, porém eu ainda podia vê-los em meus pensamentos, sentir toda a sua intensidade e força irradiando.
E conforme eu andava de volta às barracas, comecei a pensar com o medo pulsando ainda mais intensamente em mim. O que o tal Chay poderia ter feito à Mel?
Minha amiga não era uma pessoa com grande senso do que poderia ser perigoso ou não e para ela já ter sido atacada, abduzida ou qualquer coisa que aqueles aliens pudessem fazer, não custava nada.
Sem tirar Mel do pensamento, segui o alien até chegarmos às barracas, durante todo o pequeno caminho, ele seguindo com seus passos arrogantes e indiferentes a mim e eu rezando.
Para que não fosse abduzida barra morta barra mutilada barra qualquer coisa que aqueles aliens pudessem fazer. E rezando para que estivesse tudo bem com minha melhor amiga. Rezando para que Mel estivesse bem.
Três
Eu geralmente me preocupava a toa com Mel. E dessa vez não fora diferente.
Eu rezara demais para nada. Perdera as contas de quantas vezes minhas preces a Deus em prol de Mel foram em vão. Ou Deus as atendeu, não sabia a certo. O que eu sabia, era que mais uma vez, eu me preocupara gratuitamente com minha amiga, pois quando eu e o alien arrogante chegamos às barracas, Quenny estava displicentemente sentada, com o tal Chay a sua frente, gemendo de dor enquanto ela limpava terminava os últimos pontos em sua sobrancelha e aos seus pés jazia o kit de primeiros socorros que ela sempre preparado para alguma emergência.
Ela riu de algo que ele estava dizendo ou mais parecia resmungando e eu me aproximei deles com toda a tensão possível empurrando meus ombros para baixo. Não era porque eu estava vendo Mel a salvo que isso significasse que ela realmente estava bem. Nunca se sabia com Mel. Literalmente, eu tinha um peso em minhas costas. E, colega, o medo pesava toneladas. Mais toneladas ainda se contarmos que eu estava com medo por mim e Mel ao mesmo tempo, pois se fossemos analisar o rosto contente de Mel, alguém tinha que ficar com medo ali. Ela ergueu os olhos para mim, quando fiquei atrás dela e logo viu o cara comigo também, ela sorriu com aquele jeito tão Mel e voltou os olhos para o curativo que ela colocava na sobrancelha do outro extraterrestre.
- Oh! Lua, que bom que trouxe o Arthur. Ele precisa de alguns pontos e limpar esses ferimentos urgentemente. Eu já terminei com o Chay, não é?
O alien de cabelos escuros que se chamava Chay sorriu para Mel de um modo delicado e levantou-se com a ajuda dela enquanto eu continuava olhando para Mel com os olhos quase arregalados. Arthur? Ela já sabia o nome dele! Sim, Mel era mais rápida do que eu pensava, mesmo. Eu salvara o filho da mãe e ele não me dissera o seu nome, já minha amiga que nem ao menos tinha tocado nele, já sabia até o seu nome. Sem contar as risadinhas que ela e Chay trocavam. Se aquela situação já não fosse surreal demais, eu poderia dizer que eles estavam flertando. O que, falemos sério, era impossível.
Chay veio para perto de mim e me cumprimentou com um simpático meneio de cabeça enquanto mantinha uma mão na altura do peito, onde uma atadura estava por cima de seu corte.
Desisti de tentar manter um contato não verbal com Mel e me abaixei perto da fogueira, pegando os galhos que eu deixara cair quando a nave dos dois caíra e passei a separá-los para poder acender a fogueira.
- Não temos tempo para isso. - Arthur ou seja lá quem aquele alien metido a besta fosse andou por perto das barracas analisando o local como se procurasse por mais alguém. - Precisamos chamar a Nave Mãe, não temos tempo para ficar brincando de médico e paciente. Precisamos da Nave Mãe.
- Sim. - concordou Chay e depois olhou nos olhos de Arthur profundamente, virando o rosto para nós em seguida, como se nos apontasse e depois o olhou com firmeza novamente.
Não entendi o que estava acontecendo e decidi não prestar muita atenção nisso também. Continuei na separação dos gravetos com todo o cuidado. Era melhor prestar atenção em coisas desimportantes como a fogueira e não nos aliens que estavam perto de mim. Fogueiras eram a minha especialidade no Escoteiras do Amanhã, era a única coisa que eu conseguia fazer sem ninguém gritar comigo. Quando eu montava as barracas sempre vinha alguém me dizer que eu estava montando do lado errado, que a estaca não estava fixa o suficiente ou qualquer coisa assim.
Acender uma fogueira não era uma coisa muito difícil. Até Mel conseguia acender, não que ela gostasse de fazer isso. Era simplesmente separar os gravetos mais secos, fazer uma pilha com eles e acender. Nivel de dificuldade: iniciante.
Virei meu rosto para Mel, certificando-me de que ela estava bem e vi que ela estava mais contente do que se eu tivesse lhe dado um passe grátis para a NASA. E isso porque visitar a NASA era o sonho de sua vida. Ela encarava Arthur eChay fascinada, intercalando sua atenção entre o rosto de um e de outro e tentando de todas as maneiras manter o seu kit de primeiros socorros equilibrado, mesmo precariamente, em seus joelhos. A conversa silenciosa dos dois a estava deixando cada segundo mais embasbacada e eu senti muita vontade de rir da cara dela. Fiquei tentada a tirar uma foto da expressão que ela estampava, mas achei que seria maldade demais para com minha amiga.
Mas sério, bem que ela poderia disfarçar, não é?
Não, nem eu mesma conseguia fazer isso. Eu deveria estar prestando atenção nos gravetos menos úmidos para montar a tal fogueira, mas o modo como os olhos de Arthur brilhavam me deixavam hipnotizada. Era algo com que eu nunca havia lidado antes em toda a minha vida. Ele despertava tantas sensações em mim e ao mesmo tempo em que eu não conseguia raciocinar direito.
Os gravetos estavam espetando minhas mãos, mas olhar nos olhos de Arthur me deixava anestesiada, me deixava entorpecida. Simplesmente encarar aquela piscina chocolate já trazia todas aquelas situações conflitantes para o meu corpo.
Eu e Mel ainda tínhamos os olhos fixos nos dois quando Arthur virou-se para ela num quase grunhido:
- Tudo bem. Pode fazer esses... Pontos.
Arthur era tão arrogante! Se ele fosse da Terra, com certeza seria um daqueles caras irritantes e metidos da Nasdaq ou Wall Street. Bem a cara dele mesmo. Com aquele suéter de gola alta, parecendo tão... Tão...
Filho da Mãe. Sim, essa era a palavra que mais se encaixava àquele metido. Era obvio que ele não era da Terra. Nem as pessoas da Terra conseguiam ser tão irritantes. Elas tinham um limite. Bem baixo, sabemos. Mas Arthur não tinha esse limite. Ele era arrogante demais, metido demais, irritante demais. Entorpecente e sedutor demais.
Não. Foco. Eu tinha que manter o foco. Então voltei minha atenção já bem desfocada, para o planejamento da minha fogueira.
Mel estava tão distraída quanto eu, talvez até mais, e Arthur precisou repetir o que ele havia dito para que ela finalmente pegasse um pedaço de algodão e o embebesse no antisséptico.
- Sente-se aqui, Arthur.
Ele sentou-se no pequeno tronco na frente dela e fechou os olhos já antecipando a dor que sentiria. Ela passou o algodão por cima de seu corte, com todo o cuidado e ele gemeu baixo, rangendo os dentes numa tentativa de segurar qualquer demonstração de dor. Ele era bem capaz de arrancar a mão dela a dentadas, mas não fez isso. Simplesmente ficou lá rangendo os dentes enquanto ela começava a dar alguns pontos em seu supercílio, com todo o cuidado.Arthur apertava as beiradas do tronco com força, mas não soltou mais nenhuma interjeição que pudesse ser considerada de dor. Ele não queria parecer fraco diante de nós. Mais uma mostra do quão convencido ele podia ser.
- Quer ajuda com essa fogueira? - Chay me perguntou, sentando-se ao meu lado e separando alguns dos gravetos que estavam mais molhados sem nem ao menos esperar minha resposta. Ergui os olhos para ele, que me olhou intensamente com os mesmos olhos chocolates e dessa vez fora diferente. Os olhos de Chay eram mais doces, mais como chocolate mesmo. Se fossemos comparar realmente os olhos de Chay e Arthur a chocolates, os de Arthur seriam algo como chocolate amargo. Aqueles que a gente adora comer, mas que dá uma vontade absurda de beber água depois. Os de Chay seriam o chocolate ao leite. Doces, suave e que derretem facilmente.
Sorri para Chay não sabendo o que falar a ele e lancei um olhar para onde Mel e Arthur estavam. Ele já estava com um grande curativo na sobrancelha e no momento ela dava dolorosos pontos no corte que ele tinha no braço, já limpo devidamente por Mel. Meus olhos foram atraídos pelas grandes orbes chocolates de Arthur como se estes possuíssem imas. Ele me olhou de volta tão fixamente que era como se ele pudesse ler qualquer coisa que eu estava pensando, como se ele conhecesse o que havia dentro de mim. Ou talvez, como outra coisa.
Como se ele quisesse se comunicar comigo pela minha mente.
Abaixei a cabeça, me virando novamente para os galhos no chão à minha frente tentando desesperadamente quebrar aquele contato. Arthur conseguia nublar minha mente sempre tão racional. Em anos ninguém nunca tivera o poder de me desarmar apenas com o olhar. E Arthur conseguia isso. Ele parecia poder ler meus pensamentos, apenas fixando os olhos dele nos meus, era como se ele soubesse exatamente o que se passava pela minha cabeça. Soubesse o que eu precisava, o que eu queria.
Irritada com o mixer de sensação que vinha em minha mente quando nossos olhos se encontravam, virei para Chay que também me encarava, dessa vez de uma maneira menos intensa do que Arthur encarava normalmente. Chay sorria para mim com uma expressão divertida no rosto, virou-se para Arthur em seguida, deu uma risadinha e continuou a separar os galhos.
Continuei mexendo nos galhos sem realmente vê-los até Chay rir um pouquinho mais alto. Virei-me para ele com minha raiva contida e perguntei entre os dentes:
- Qual o problema com ele, hein?
- Está molhado. - Chay respondeu erguendo o graveto que ele iria separar, achando que eu estava falando sobre isso. Mas logo percebeu o real assunto. Achei na verdade que ele só estava tentando ganhar tempo antes de dizer o que realmente pretendia. - Ah! Arthur? Bem, ele tem que ser assim. Faz parte do que ele é.
- O que quer dizer com isso? - perguntei me aproximando de Chay, dessa vez sem temer que ele tirasse uma nave do bolso e me abduzisse.
Eu poderia ser bem medrosa, mas meu medo era muito pequeno se comparado à minha curiosidade. Afinal, eu não seria uma boa jornalista se não fosse curiosa. E naquele momento, ela estava à toda, formando inúmeras perguntas em minha mente, perguntas que eu fazia plena questão de travar em minha língua.
Eu nem me lembrava mais que estava com medo de nossos novos “amigos” ficarem verdes de repente, tirando aquela pele rosada com um zíper e nos atacarem, matando a gente no processo e deixando os corpos perto da água prontos para serem levados pelas ondas e assim encobrirem o assassinato.
Céus, como minha imaginação trabalhava!
Chay se aproximou de mim, olhando de canto para Arthur e depois voltou-se para mim respondendo baixinho:
- Ele não me deixa dizer. Talvez... - ele disse olhando para Arthur que parecia ainda mais carrancudo encarando-nos enquanto Chay abaixava-se mais, fazendo uma pausa estranha e depois levantou a cabeça para Arthur mais uma vez, rindo a plenos pulmões, dizendo em voz alta para que Arthur também pudesse escutar. - Ele queira contar para você ele mesmo.
Antes que Arthur pudesse fazer algum comentário mordaz que despejasse toda a fúria que ele tinha nos olhos, Mel deu um ponto mais repuxado, fazendo o homem dar um gemido mais alto e olhar feio para ela, que ficou vermelha e abaixou a cabeça se desculpando. Não que ela estivesse com medo, conhecendo Quenny como eu conhecia, sabia que aquilo não era medo. Na verdade, duvidava seriamente que ela estivesse com medo de qualquer um dos dois, ou de ambos, quem sabe? Ela parecia cada segundo mais encantada enquanto cuidava dos ferimentos de Arthur. Conhecer outra civilização, de preferência extraterrestre era um dos sonhos da vida de Mel e conhecer Arthur e Chay devia estar beirando a realização dele.
Conhecer ETs estava bem longe do sonho de minha vida. Mas eu não queria pensar nas coisas impossíveis com as quais eu sonhava, por isso terminei de separar os gravetos, arrumando-os em uma pilha grande para poder acender a fogueira.
Chay, ao meu lado colocou uma das mãos no curativo extenso de seu ombro e sobrou o local que parecia estar ardendo e imaginando a quantidade de antiséptico que Mel provavelmente passara no local, estava realmente ardendo. Meus olhos se fixaram no alien ao meu lado, prestando atenção em todas as características do rapaz ao meu lado. Chay era muito bonito e seu jeito simpático e agradável me fizera gostar dele, apesar de todo o temor que percorria em minhas veias. Apenas a palavra alien me deixava aterrorizada.
Mas Chay não era bonito o suficiente para manter meus olhos nele por muito tempo. O corpo de Arthur era um ima para os meus olhos. Por mais que eu tentasse mantê-los fixos na fogueira que eu tentava acender, os olhos de Arthur pareciam chamar os meus e fazê-los se encontrar. Mas eu tinha um controle muito bom, fiz questão de manter meus olhos baixos para os galhos empilhados, mas altos o suficiente para ver Mel andando disfarçadamente na direção deChay, até mesmo chutando pedrinhas para disfarçar que estava indo para perto do alien com outras intenções. Mas a intenção principal ainda me era desconhecida.
Chay sorriu para ela e ajudou-a a guardar o resto dos medicamentos dentro da caixa de primeiros socorros.
Arthur saiu de perto de Chay e Mel e ficou bem perto de mim, mal sabendo o quanto meu coração batia forte apenas por tê-lo tão próximo. A mão dele veio para perto de meu ombro como se ele quisesse me tocar para me fazer prestar atenção em algo que ele fosse dizer, mas com Arthur recolheu a mão com rapidez, me deixando órfã apenas de imaginar o contato que estaria por vir.
- Não precisa perder tempo acendendo essa fogueira. E perdendo muito tempo, já que está aí há horas e ainda não atendeu. – antes que eu dissesse algo para rebater, ele olhou para Chay com firmeza como se comunicasse com ele pelos pensamentos e depois disse em voz alta, mais como para repetir o que já dissera na mente de Chay. - Precisamos ir.
- Pra onde vão? - perguntamos Mel e eu em uníssono. Geralmente não fazemos essa coisa tão infantil, mas como ambas somos curiosas demais, quando a curiosidade atinge níveis alarmantes, isso acontece. E no momento os níveis alarmantes já tinham sido superados e estavam atingindo o infinito e alem. Não nada a ver com infinito era seguro no momento.
- Temos que chamar a nave mãe para nos resgatar da Terra, limpar nossas evidências e a mente de vocês.
Ante a resposta de Chay, que fora tão suave e parecera até mesmo que era uma boa coisa, olhamos atônitas para eles e Mel estava a ponto de chorar de desespero apenas com a possibilidade de esquecer que conhecera pessoalmente dois aliens e vira uma nave espacial quente e de perto. Era mais que óbvio que ela não queria esquecer aquela experiência. Tinha quase certeza de que quando ela chegasse em casa, ela escreveria tudo aquilo em seu caderninho estrelar, aquele que ela tinha desde os oito anos e que eu ajudara a recortar todas as estrelinhas de papel laminado e a escrever com glitter coloridos as palavras “espaço” e “amigas”, caderno esse que Mel mantinha até hoje anotando as coisas que mais marcavam a vida dela. E com direito a todas as descrições e detalhes possíveis. E depois de conhecer Arthur e Chay e naquelas circunstancias, er
a bem capaz que Mel chegasse em casa já procurando uma caneta e tirando o caderninho estrelar debaixo da cama.
Já poderia até ver o número de descrições que ela faria. Eu tinha uma memória absurda para detalhes, mas acho que não conseguiria descrever algumas coisas nem mesmo se eu quisesse. Como por exemplo os cabelos de Arthur. Aquela cor não se encaixava em nenhum padrão que eu já conhecera. Naquelas paletas de tintura que as cabeleireiras entregavam antes de decidirmos a cor exata da tintura, eu tinha certeza de que não existia a matiz dos cabelos dele. Aquela cor era única. Mas como descrevê-la? Loiro acobreado intenso? Não, muito claro. Castanho claro dourado? Também não. Olhei-os brilhando à luz da lua e descobri que perfeito era o que melhor descrevia aqueles cabelos que aparentavam maciez incrível e que pareciam chamar meus dedos para tocá-los.
- Não podemos deixar que fiquem com memórias nossas em suas mentes, pode ser perigoso demais tanto para nós quanto para vocês mesmo. – Arthur encarou Mel enquanto falava e sua voz ficou tremula ao perceber que a minha amiga chorava sem parar, derrubando lágrimas sentidas que eram abafadas pelas próprias mãos dela. Aproximei-me para confortá-la, mas congelei onde estava vendo Chay dar um passo à frente e colocar a mão no ombro de Mel, que levantou o rosto para ele, com uma expressão confusa e depois abriu um sorriso lindo ao notar de quem era a mão em seu ombro.
- Sinto muito, mas é necessário.
- Eu... Não quero... – ela choramingou, mas as suas palavras não valiam de muita coisa, já que de toda a forma os dois tirariam as nossas memórias por colocá-los em risco. E se nos colocaria tão em risco também, eu até agradecia a eles por tirarem as nossas recordações deles.
- Precisamos ir agora. A ARE não demorará a chegar quando souber que a nossa nave caiu no perímetro dela. E, sinceramente, eu não estou com paciência para os agentes da ARE.
Fiquei tentada a perguntar o que era a ARE e o que os agentes dela tinham para fazer alguém perder a paciência, não que fazer alguém como Arthur perder a paciência fosse muito impossível, mas Chay também parecia não querer encontrar a ARE, o que me deixou ainda mais curiosa a respeito dela. A pergunta veio na ponta da minha língua mas o olhar repreensivo que Arthur me lançou, fez com que todas as palavras que eu estava para dizer morressem na minha boca.
Arthur andou para perto da floresta mais uma vez e olhou com firmeza para Chay e este tirou a mão do ombro de Mel e deslizou-a pelo seu braço com um sorriso tímido e sentido e segurou a mão dela por alguns minutos. Eu pensei em rir ao ver a pele de Mel se arrepiar imediatamente ao toque de Chay, mas decidi não fazer isso. Ela já parecia envergonhada o suficiente.
Com mais um olhar impaciente para Chay, Arthur demonstrou o quanto estava com pressa, Chay foi para o lado dele, e ambos andaram para as arvores, quando estavam quase entrando na floresta, Chay voltou-se para nós com as últimas instruções antes de partir:
- Não fiquem aqui. Desmontem a barraca e guardem tudo o mais rápido possível, daremos um sinal e assim que o dermos, saiam daqui com a maior velocidade que puderem. Se ficarem aqui serão investigadas pela ARE sobre nós e não sabemos quando a nave nos buscará e poderemos apagar a mente de vocês, por isso é da maior importância que corram daqui para não serem ligadas a nós e se encrencarem. Entenderam?
Respondemos que sim, juntas novamente, eu com um tom de voz firme de quem entendera as instruções e as obedeceria assim que as ordens fossem dadas e Mel com um tom de voz choroso que mostrava que ela bem poderia implorar para que eles ficassem, se Harols passasse maisalguns minutos olhando para ela. O que ele não fez, correndo para onde Arthur estava e entrando acompanhado dele no pequeno bosque.
Assim que os dois saíram do nosso campo de visão, eu me preparei para o que viria a seguir. Não que eu fosse vidente ou algo do tipo, apenas conhecia Mel tempo demais para saber, assim que me virei para ela, que ela estaria com as duas mãos no rosto e formando um “o” fofo com a boca, num indicio mais que claro de que ela começaria a gritar em êxtase em não mais que três segundos. Talvez sapateasse também. Era bem óbvio que ela iria fazer aquilo, já que Mel se empolgava apenas com algumas estrelas e um cometa, eu tinha medo de pensar na verdadeira reação dela por termos sido afortunadas em conhecer dois aliens.
Para mim, eu não era nada afortunada. Eu bem preferia ter passado a minha noite assistindo qualquer filme romântico, em especial um dos filmes do Patrick Swayse e aproveitar o calor da minha cama. Preferia muito mais esse programa chato que sentir aquele mixer de sensações mais uma vez.
Mel gritava na minha orelha sem nenhuma piedade de meus tímpanos extravasando toda a sua emoção por conhecer Arthur e Chay e ver uma nave espacial de perto enquanto eu não prestava atenção em nem apenas uma das loucuras que ela esguelava, minha mente estava fixa no redemoinho de pensamentos que rodeavam à minha volta.
- Meu Deus! E eles são tão simpáticos. – Mel disse empolgada quando finalmente prestei atenção em seus gritos histéricos, preocupada com as suas cordas vocais. Meus tímpanos já estavam mais que acostumados com as reações extremas de Mel.
Céus! Se ela já gritava assim pó nada, eu teria medo do momento em que ela fosse dar a luz. O hospital teria que arrumar abafadores para todos os pacientes e junta médica. E como tenho certeza de que Mel não me deixaria de fora num desses momentos, eu precisaria de dois desses abafadores, quem sabe três.
- Chay é simpático. – corrigi Mel com os olhos fixos nas arvores esperando um sinal deles, ao mesmo tempo em que chutava os gravetos e começava a desmontar as barracas.
- Arthur também é. Você só diz isso porque não conversou com ele.
Tirei a última estaca de minha barraca olhando para ela incrédula. Como se ela tivesse conversado mais que eu.
- Ah, Mel! Fala sério!
Ela terminou de amarrar as pernas do tripé do telescópio e olhou para mim com o rosto vermelho, provando que ela estava envergonhada por algum motivo.
- Tudo bem, Chay é mais simpático que Arthur.
E com essas palavras ela ficou ainda mais vermelha e abaixou a cabeça, cuidado de desmontar o telescópio enquanto eu terminava de desmontar as barracas e guardar tudo dentro do porta-malas. Sempre com os olhos nas arvores mais adiante, continuei desmontando e guardando os utensílios de nosso acampamento. Mel já tinha terminado de desmontar o seu telescópio e já, inclusive, o tinha guardado, andando atrás de mim falando sem parar por pelo menos um instante enquanto eu ainda trabalhava.
- Nossa, e você viu quando eu estava dando pontos nos braços dele... – ela continuou falando mas não prestei muita atenção. Esse era o segredo para lidar com Mel, não escutar tudo na integra. Isso ajudava muito a nossa amizade a durar tanto tempo. Eu não escutava algumas coisas e ela ignorava o meu mal humor muitas delas.
- Jura?
- Juro? E parece que o coração deles bate mais forte que o nosso, sabe? Céus! Chay é tão divertido! E aquelas roupas, então?! Eu achei que eles ficaram divinos com aquelas golas altas. Não acha? É, eu também acho que preto é a cor perfeita para lês. – ela respondeu a um comentário que eu não fiz e segurei a risada com muito custo. – Lua, você viu aqueles cortes? Estou preocupada se eles saberão trocar os curativos no planeta deles. Será que eles tem um kit de primeiros socorros na nave?
- Mel, já parou para pensar que por um acaso, eles tenham uma cicatrização rápida.
- É, pode ser... – ela parou cogitando a minha solução dada apenas para ela colocar uma virgula naquela oração que ela estava fazendo. Se eu não parasse as palavras dela, com certeza ela falaria por muito mais tempo, deixando a minha cabeça ainda mais zonza.
- Lua... – ela chamou – Acha que eles vão fazer a gente esquecer? Sabe, eu realmente não queria esquecer que eu encontrei um homem como... Pessoas como...
- Mel. – parei de guardar as coisas no porta malas e me virei para ela pronta para ralhar com ela, mas seus olhos estavam tão brilhantes e preocupados que eu não tive coragem de dizer qualquer coisa mais ofensiva. – OK. Porque não vai ligando o carro? Precisamos ir embora, só precisamos esperar o sinal.
Ela assentiu e foi na direção do carro mais contente ainda por eu não estar brava com ela por estar falando demais. Na verdade, Mel não estava realmente falando comigo. Ela estava mais fazendo um monólogo que qualquer outra coisa.Mel sempre fora boa com isso, mas ver minha amiga tão empolgada ligou o meu alarme de preocupação. Ela era avoada demais, sonhadora demais, e era minha obrigação como amiga dela cuidar para que ela não se deslumbrasse demais.
Olhei para as arvores mais uma vez e vi uma luz verde brilhar por entre as arvores. Fiz um sinal afirmativo com a cabeça, mesmo sabendo que eles não o veriam e antes de me virar para o carro, pronta para seguirmos para longe dali, dei mais uma olhada para as arvores, me certificando de algumas palavras antes de dizer algo para Mel.
- Hey. Não adianta nada ficarmos tão empolgadas. – ela me olhou um pouco confusa, enquanto eu abria a porta do carro e me sentava ao seu lado. – Você mesma sabe que isso foi apenas um contato imediato. Eles não vão voltar, e mesmo se voltarem, até lá eles já terão limpado a nossa mente e não nos lembraremos dele, mesmo se cruzássemos com eles na 5ª Avenida e parássemos olhando. E você sabe disso.
Ao contrario do que eu pensei que aconteceria, Mel não me olhou com lágrimas nos olhos ou ficou emburrada comigo, fazendo biquinho e batendo a porta do carro. Ela simplesmente sorriu e segurou minha mão que estava apoiada no carro com um sorriso radiante que me fez sorrir também.
- Pois eu, Lua, acho que vamos nos lembrar deles se olharmos para eles na Times Square, sabia? Eu sou uma pessoa intuitiva e dessa vez minhas intuições me dizem algo.
Sentei-me no banco do carona ao lado da minha melhor amiga perguntando a ela o que as suas intuições tanto diziam.
Mel ajeitou-se alegremente diante o volante e ligou o radio deixando uma melodia desconhecida para nós soar dentro do carro antes de responder com um sorriso ainda mais radiante.
- Minhas intuições me dizem que isso é apenas o começo. E você sabe que minhas intuições não falham, não sabe?
Eu sabia. E era exatamente por isso que eu estava tão tensa. Pensar que aquilo era apenas o começo era aterrorizador demais para mim. Dessa vez não por pensar que Arthur e/ou Chay pudessem tirar uma nave do bolso e nos abduzir. Dessa vez porque eu tinha medo do mixer de sentimentos que sempre me invadia toda vez que aqueles olhos castanhos se prendiam nos meus e eu não conseguia ir contra a força daqueles orbes chocolates. Era como se eles me puxassem para Arthur. Exatamente como uma ima que me fazia perder o controle.
E isso era o que eu mais temia. Perder o controle.
- Confie em mim, Lua. Estou escutando atentamente minhas intuições.
- Eu confio em você, Mel.
Ela mudou a marcha para sair da pequena trilha que dava na autoestrada e olhou para mim por alguns momentos antes de entrar na rodovia, como se me olhasse e escutasse algo ao mesmo tempo.
- Dessa vez será diferente para nós duas. Minha intuição me diz isso. Conhecer Arthur e Chay foi apenas o inicio dessa diferença. Vem muito mais pela frente.
Rezei baixinho para que pela primeira vez desde que eu conhecera Mel, que ela estivesse errada. Que desta vez não fosse como quando ela dissera que iríamos ficar de recuperação de química e realmente ficamos, ou quando ela disse que eu iria conseguir passar na faculdade com a terceira melhor media e realmente passara.
Céus, que dessa vez fosse diferente. Que Mel estivesse errada.
Quase postei minhas mão para Deus entender realmente minhas preces.
Pois se ela estivesse certa, o mixer estava apenas começando.
E por que algo dentro de mim me dizia que dessa vez não era diferente?


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2 Comentários

  1. Uma amiga como a mel eu já tinha matado ou se suicidado

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  2. Mas eu faria o mesmo kkkkkkkkkk

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